Dúvida - Qual conta pagar primeiro quando estou endividado?

16:38


Recebi a seguinte dúvida, então vou responder ela por meio desse post, pois pode ser a sua dúvida também!
"Tatiana, muito útil estes posts. Aproveito para fazer uma consulta. Estou no limite do cheque especial e ainda tenho umas contas em atraso. Meu filho me ofereceu a poupança dele que poderá ser paga com rendimento do poupança. Minha dúvida: Uso este dinheiro para pagar as contas que tem juros em média de 3% ou deposito na conta para me livrar do cheque especial?" 
Em primeiro lugar: que bom que você usou seu precioso tempo para ler meus textos enormes! Estou feliz de verdade! Inclusive sua dúvida ia ser respondida mais para frente, mas como você perguntou agora vou responder agora mesmo! Vamos lá?

Olha, você já deve ter reparado que cada modalidade de conta/dívida implica em uma taxa de juros diferente. Existe o mesmo conceito com empréstimos. Sem me aprofundar muito no assunto posso te dizer que o empréstimo familiar, quando feito sobre contrato, possui a menor taxa de juros do mercado, portanto é o mais indicado. O que as pessoas esquecem é que o cheque especial também é uma modalidade de empréstimo. Agora que esclarecemos isso vou te mostrar o ponto prático da questão, ok?
A primeira coisa que você deve fazer é listar todas as suas dívidas. TODAS. Pegue todos os boletos, os papéis, os canhotos, as cartas, tudo que está pesando no seu orçamento. Organize-os de maneira que você saiba o 'porque' você contraiu tais dívidas, isso é importante. Feito isso, análise as taxas de juros aplicadas em cada um e organize por escala. Basicamente você vai colocar as mais preocupantes no topo (entenda-se: maiores taxas de juros, riscos de apropriação de bens, consequências na justiça, etc etc etc) e as mais "leves" no fim. Ainda está comigo? Respire fundo que agora começa a parte mais chata. Vou te dar duas idéias, duas perspectivas pelas quais eu atacaria o problema:
1.Saiba de quanto dinheiro você dispõe para pagar suas dívidas. Incluindo a oferta feita pelo seu filho, obviamente, mas também suas outras fontes de renda. Separe desse montante o valor necessário para pagar suas contas mais básicas, as necessidades que nós listamos anteriormente (água/luz/telefone, supermercado, aluguel. plano de saúde, etc etc etc). Agora, pegue um caderno, uma caneta e o telefone e ligue para cada um dos atendimentos responsáveis pelas suas dívidas. Você vai negociar acordos e vantagens em cima de suas dívidas. Comece pelas piores, e seja absurdamente sincera!
Você me perguntou se o melhor é quitar o cheque especial ou suas dívidas com taxas mais elevadas de juros. Do meu ponto de vista: o banco não negocia cheque especial. Não existe pagamento em parcela, não existe acordo. Ou você paga, ou você paga (pelo menos até onde eu sei ele não negocia). O cheque especial é uma armadilha, das boas. É um buraco negro. Já, suas outras contas com taxas de juros de 3%a.m., apesar de serem absurdamente abusivas, provavelmente aceitam um acordo. Um parcelamento.
Agora sejamos realistas: não acredite em papai noel das finanças, se você deve você vai pagar caro por isso. Não espere reduções de taxas de juros, espere por parcelas que caibam no seu bolso. O melhor que você pode ter é, no futuro, caso você adiante as parcelas do pagamento, obtenha algum tipo de abono nos juros que correm de uma mês para o outro. Sendo assim pague a dívida que te oferece menos espaço para manobra.
Depois de descobrir quais opções de acordo você têm em cada empresa, bole uma estratégia que caiba no seu bolso. Lembre-se: você pode oferecer entradas no pagamento das dívidas e negociar o restante!
Nessa estratégia você pode trabalhar suas contas mais preocupantes e dormir tranquilamente a noite. O que sobrar sem resolver provavelmente vai ser uma conta menor, com juros mais palatáveis e consequências mais aceitáveis.
2. Essa outra maneira de resolver o problema é a minha favorita, é a que eu uso e dá menos dor de cabeça. Mais simples de administrar. Vamos lá? Você começa da mesma forma que a anterior, mas para antes de fazer as ligações. Então você vai pegar o dinheiro que você tem em mãos e quitar com eles todas as dívidas mais bobinhas (parcelas de boletos de roupas, compras em lojas de móveis, etc etc etc). Depois que você fizer isso vai ter em mãos as contas mais indigestas. Sabendo disso você calcula o seu orçamento ideal e descobre quanto por mês você pode utilizar para pagar essas dívidas mais pesadas. Vamos supor que sobrou R$600. Você então vai ligar para o seu banco e analisar uma proposta de empréstimo pessoal. Seja firme, explique a questão, fale o valor que você pode pagar por mês. Se você tiver um bom relacionamento com o banco a taxa de juros vai ser razoável (porém nunca ideal, tenha isso em mente!) Feito isso contraia o empréstimo, use o dinheiro para quitar TODAS as suas dívidas e então você assume as parcelas do empréstimo, que não deixa de ser uma dívida, mas é uma dívida que:

  1. pode ser renegociada a qualquer momento;
  2. pode ser quitada a qualquer momento; e
  3. ainda melhora seu relacionamento com a instituição financeira ser for honrada com pagamentos feitos na data.
Seja qual for sua decisão, você deve analisar algumas questões para não se colocar nessa roubada novamente: 
  • Por que eu caí no cheque especial?
  • Por que me sujeitei a uma dívida que cobra juros tão altos?
Não sei se você sabe mas a taxa de juros existe como um medidor de inadimplência. Ela nos diz muito a respeito da nossa imagem no mercado. Traduzindo: se você não tiver uma imagem bacana suas taxas de juros serão as maiores possíveis, porque é uma maneira que a instituição financeira têm de garantir que se você não honrar sua dívida até o fim eles terão um prejuízo menor! Pense nisso, seja sincera consigo mesma e trabalhe para melhorar sempre!

Espero te ajudar a ter alguma luz nessa questão! Use seu dinheiro de maneira consciente! Ah, e avise seu filho que provavelmente você vai atrasar um pouco na devolução do dinheiro dele, mas quando o fizer pague  o valor corrigido com juros, ok? Garanta que seja um valor maior que o rendimento da poupança, como por exemplo 1%. Assim seu filho não perde por ter ficado sem o dinheiro rendendo durante os meses que você não devolver.

Beijão, boa sorte e  muita saúde financeira para você!


4 comentários

  1. Obrigada Tatiana, vou seguir os passos com calma e dimensionar o tamanho do rombo, mas sei que vou ter que atacar a dívida pela primeira perspectiva, pois já adquiri empréstimo bancário. O bom é que ainda não perdi o sono, este mês paguei o cartão de crédito que também tem taxas altíssimas o que já me deu certo alívio. Obrigada mesmo, tenho lido várias coisas na internet sobre o assunto, mas a sua abordagem é realmente a mais clara que encontrei. Quanto ao motivo das dívidas, foram gastos com a saúde, coisa que preciso planejar melhor. Um grande abraço!

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    1. Obrigada você, pelas palavras gentis! A gente nunca sabe o que espera a gente nas curvas da estrada da vida, mas sempre podemos estar bem organizados para lidar com elas!
      Tenho certeza que irá seguir a melhor estratégia para você! E lembre-se: pague a dívida que te oferece menos espaço para manobra.
      Melhoras na saúde! Beijão!

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  2. Li os posts anteriores. Nossa, adorei, muito bons mesmo! Não comentei lá, pois quando tento acessar a página individual, ela é bloqueada. Deve ter algo no título que o firewall do meu trabalho tá bloqueando. Enfim, adorei mesmo! Vou colocar em prática. Beijos!

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    1. Hélida, obrigada! Tomara que você tenha paciência de acompanhar até o fim!

      Beijão!

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