Como organizar sua vida financeira de uma vez por todas - Parte 5

12:00

Em primeiro lugar: mil desculpas pela demora com os posts novos, mas eu não tive tempo de trabalhar nisso nesse fim de semana! Tive muitas novidades, mas falo mais delas em outro momento, quando tudo estiver mais real. OK, vamos lembrar de onde eu parei. A essa altura do campeonato você já está caminhando para uma estabilidade financeira. A ficha caiu: você precisa mudar. Então você mudou, mas foi uma mudança de pensamento. Modus operandi. Nesses último posts, talvez você não tenha se dado conta, mas aprendeu a colocar em prática alguns conceitos bem populares de finanças domésticas. Eles são:
  • Seja realista;
  • Comece uma poupança;
  • Tenha um orçamento/noção de quanto você precisa para viver;
  • Não colecione cartões, nem bancos;
  • Como transmitir uma imagem confiável aos credores;
  • O uso racional do cartão de crédito; e
  • Como administrar o dinheiro que você recebe em mãos.
Hoje irei abordar a parte mais delicada da situação. Está na hora de enfrentar os números, os papéis, a calculadora. Vamos lá?

9. Conheça seus números.
Chegou a hora de descobrir o tamanho do rombo. Vá à caça de todos os papéis, comprovantes, boletos, cartinhas, carnês, etc, etc, etc. Eu espero, tome o tempo que precisar. (...) Agora coloque tudo sobre uma grande mesa e vamos por a mão na massa.  Nesse momento você pode estar nas mais diversas situações: pode ser que na sua frente estejam pastas incrivelmente bem organizadas, com todas as suas contas arquivadas e categorizadas; ou uma caixa de sapato cheio de papéis que você não tem ideia do que são, com um par de meias e uma bolinha de fisioterapia, umas embalagens de bala e uma chave que só Deus sabe de onde veio. Acontece, é a vida. Nós iremos categorizar tudo agora. Isso poderia levar séculos para uma pessoa leiga, mas eu vou dar uma possível ideia de como nós faremos isso funcionar.
A chave é ir dividindo. "Como assim, dividindo?" Simples: você tem uma pilha de papel na sua frente. Eu quero que você faça uma espécie de jogo, de pensamentos rápidos. Crie primeiro umas categorias base. Elas podem ser, por exemplo:
  • Banco
  • Casa
  • Família
  • Pessoal (se for o caso, você pode criar uma para cada membro da família que seja economicamente ativo, como por exemplo seu cônjuge)
  • Outros
Agora, cada papel vai ir parar em uma dessas categorias. Use caixas, ou bandejas, para colocar os papéis, por hora. Assim se for interrompido durante o processo é só fechar a caixa e continuar depois. Conta de luz? Casa. Extrato do cartão? Banco. Boleto do plano de saúde? Se for familiar, Família. Se for individual, e cada um tiver o seu, ficaria o dos filhos no "Família", o seu no "Pessoal", e o do seu cônjuge no "Fulano de tal/nome da pessoa". Para aqueles que você não sabe classificar, ou ficou em dúvida (exemplo: isso é Família ou Casa?) você coloca no "Outros". Esse processo é beeem rápido. Ainda não jogue no lixo nada, não lide especificamente com nada. Não pense, seja instintivo. Se não está acostumado a lidar com papelada vai se sentir muito estressado se tentar fazer tudo de uma vez, se tentar ler e entender tudo. De tempo ao tempo, vamos chegar lá! Deve demorar uns 5 minutos para uma quantidade média de papel. Fizemos a primeira divisão, parabéns! Agora vamos lidar com cada grupo, separadamente. Em geral o melhor é usar uma pasta sanfonada para agrupar as contas. Você pode definir uma divisória para cada mês, cronologicamente, ou pode dedicar cada divisão para um assunto diferente. Fica a seu critério, mas eu pessoalmente prefiro colocar uma divisória por assunto. Assim, se você precisar ver um material antigo, e não souber o mês de referência é só ir na divisória específica e tudo estará lá!

"Preciso usar uma pasta para cada grupo?" Olha, embora isso dependa do seu nível de organização, eu não diria que você DEVE ter uma pasta para cada grupo, mesmo porque não quero que você saia correndo pra papelaria gastar dinheiro. Eu tenho 3 pastas sanfonadas, iguais a essas da foto: uma preta, para assuntos gerais, uma rosa para meu uso pessoal e uma azul para o meu noivo. Quando o ano acaba eu pego um plástico transparente (parecido com aqueles de pastas, mas sem a furação) e arquivo os documentos por assunto. Depois coloco numa caixa e guardo numa espécie de arquivo morto. Tenho arquivado tudo que chegou até mim depois que adquiri meu CPF (não faz muito tempo, apenas 5 anos). Dizem que você deve guardar os últimos 5 anos de documentação para estar preparado para qualquer eventualidade. Eu guardo para fazer um acompanhamento e um balanço de todo o meu trajeto financeiro. Meu noivo não tinha esse hábito, então eu estou começando a fazer isso por ele recentemente, mas está tudo certo. Meu conselho? Encontre algo que funciona para você, não que funcione para os outros. Essa situação das pastas ainda é bem recente, eu costumava usar um fichário e acredito que para quem está começando é o melhor. Um simples fichário, com uns 10 plásticos dentro. E você está organizado! Por hora, é o ideal. Você ainda está começando, lembre-se!
Bom, faça uma pausa e prepare uma bebida quente para te acompanhar pelo resto do serviço. Coloque uma música também, assim não fica tão maçante. Arquive, dessa papelada toda, tudo aquilo que já foi pago. O que não foi, deixe a mão, para fazer o calculo da sua dívida atual. Você pode adquirir o hábito de guardar um extrato da movimentação da conta corrente por mês, assim pode jogar fora os comprovantes de débito. Menos papel.
Agora que você têm as contas que não foram pagas em mãos, defina uma ordem de prioridade. Vou falar disso no próximo tópico, assim você pode trabalhar no que foi falado por enquanto.
Só uma dica: ao jogar fora documentos com dados pessoais, rasgue-os em pequenos pedaços e divida-os em 3 pilhas. Depois jogue fora cada pilha em um lixo diferente. Isso evita um problema de identidade roubada.
10. Estabelecendo uma prioridade no pagamento das contas.
Agora que você sabe quais contas devem ser pagas deve estar na pior dúvida de todas: qual pagar primeiro? Como decidir entre o mais caro, o que tem uma taxa de juros maior ou o que te preocupa mais?
Do meu ponto de vista deve-se pagar primeiro o que te deixa menos espaço para manobra. Mas como eu sei o que me dá menos espaço para manobra?
Vou usar como exemplo minha situação pessoal: além da fatura do cartão de crédito, eu possuía dois carnês de uma loja de roupa, umas parcelas que meu pai tinha passado no cartão dele quando eu não estava com o meu e umas compras no cartão internacional dele também. Minha dívida total, no começo dessa trajetória, vacilava entre R$5000 e R$6000. Minha renda total não chegava em R$1500/mês. O que fazer?
Eu fiz o seguinte: quitei os débitos na loja de roupas em primeiro lugar. Por quê? Porque essas contas pequenas serviam apenas para fazer nublar minha visão do assunto. Elas estavam sendo um peso morto, se arrastando e atrapalhando o foco do problema principal. Então eu quitei-as e me comprometi a não mais usar cartões de lojas de roupas para nada. Nem no Natal. "Mas isso é um absurdo! Essas contas podiam esperar!" Não, elas não podiam. Para quem não sabe, eu já trabalhei em uma loja C&A. Exatamente no recebimento de faturas. As pessoas acham que essas contas, por se tratar de uma mera loja de roupas, não devem ser levadas a sério. Ledo engano! Eu já vi faturas de R$100 se transformarem em dívidas de R$1500. Não estou aumentando a situação, mas acontece! Efeito bola de neve! Nunca ignore as pequenas dívidas, elas levam seu dinheiro embora e você nem enxerga. E nem precisa parcela em 8x com parcelas fixas já acrescidas das taxas de processamento.
Depois de me livrar dessa sujeirinha eu parti para a dívida familiar. Nada é mais humilhante do que dever para uma pessoa da família. Porque essas pessoas não tem papas na língua quanto a cobrança. E você vai ficar marcado para sempre se vacilar com elas. Dúvida? Ok, leia isso:
Quando eu saí do meu emprego na C&A meus pais tiveram um acesso de raiva e pegaram minha pasta com todas as minhas contas guardadas. Eles fizeram um levantamento de tudo e somaram o montante. Enquanto eu não estava. Quando eu cheguei em casa foi uma das situações mais humilhantes que eu já passei. Eu não tinha vergonha de dever, não era uma grande coisa. Enfim, para resumir a história: isso aconteceu a 3 anos atrás e até hoje, ATÉ HOJE, eu não posso comprar uma revista que eles caem matando em cima de mim. Eu não posso chegar em casa com um sapato, ou uma camiseta. Não posso mostrar interesse por um nada na vitrine que começa o discurso: é, mas você não pode pagar por isso. Eu não tenho o direito de ser consumidora, porque eu ganhei o título de compulsiva-descontrolada. E eles me fizeram acreditar nisso. Todas as vezes que eu queria uma coisa, disparava uma dúvida: será que eu realmente quero isso ou só estou sendo compulsiva? Foi então que eu comecei a trabalhar no salão, tive contato com outras meninas da minha idade e percebi o real conceito de consumismo. Uma delas me contou que uma vez foi com R$100 para pagar uma fatura na Riachuelo, mas quando chegou na loja se apaixonou por um gorro, um sutiã e uma calcinha, e usou o dinheiro da conta para comprar eles. E aí eu entendi que eu não era compulsiva, muito pelo contrário: eu estava me privando do que eu realmente queria, por achar que ser consumidora é uma coisa feia, errada e suja. Esse é um exemplo de como o lado psicológico influencia no nosso relacionamento com dinheiro. Portanto eu tornei aquela máxima "não devo nada para ninguém" uma realidade, e quitei de vez o que eu devia para os meus parentes. Hoje eu aceito doações de dinheiro, ou pagamento pelo meu trabalho como cabeleireira e maquiadora, mas não sob os termos de um empréstimo. E caso você esteja se perguntando: mas você não é tão responsável assim, já que devia R$6000, eu te digo que eu nuca deixei de pagar uma conta em dia ou mesmo adiantada enquanto estava trabalhando. Só não estava nos meus planos ficar desempregada.
Bom, por último eu fiquei com a fatura do banco, que ficou meio arrastada por uns dois meses até eu me equilibrar. Eu pagava o que dava, e baixei minha dívida para um total de R$5000 cravados. Então parti para a minha estratégia: a sinceridade. Peguei o telefone, liguei no atendimento e disse com todas as letras: eu preciso fazer um acordo com o banco. E tive minha solução. Adiantei toda a minha dívida no cartão e adquiri um empréstimo pessoal. Eu tinha R$1000 livres em mãos e completei a diferença com o empréstimo. Se não fosse pelo sistema de envelopes eu nunca teria conseguido guardar esse montante sem ter de abrir mão de outra coisa, mas foi muito pelo contrário: tive um mês folgado, comprei tudo que precisei, meu noivo pode manter o dinheiro dele para os passatempos intacto (não esqueci do dinheiro do lazer, vou falar disso mais para frente!) e eu pude pagar por uma inscrição numa prova vestibular que me levou mais de R$100. Agora eu tenho em mãos uma dívida que me permite o uso de várias frentes:
  • Posso renegociá-la, caso fique muito pesado;
  • Posso adiantá-la, caso receba um dinheiro a mais ou quando voltar a trabalhar; e
  • Posso pagá-la, mês a mês, numa parcela que cabe no meu bolso.
"É mas, deve estar pagando um acréscimo enorme!" Olha, sejamos sinceros: quem escolheu fazer as compras fui eu. Adiantaria agora eu me negar a pagar os juros de um empréstimo e deixar a situação crescer em proporções astronômicas? Eu devo, logo quero pagar. É o mínimo que eu faço. Vale lembrar que em nenhum momento eu entrei no cheque especial. Fuja dessa situação! Aquela ideia de que "não tenho dinheiro para pagar, vou deixar entrar no cheque especial e depois resolvo" é o pior absurdo que existe. Se for para entrar nessa, que seja por real falta de opção. Não se negocia cheque especial: ou você paga, ou você paga! E a cada dia o valor aumenta.

Mas admito que existem situações mais complicadas que a minha. No próximo post vou falar sobre situações mais complicadas e extremas. E vou mostrar que mesmo em dívidas onde a negociação e um acordo são difíceis (porque a outra parte não quer facilitar) existe uma saída. Sempre existe uma saída para quem quer pagar suas contas.

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