O que existe depois do término
23:08
Era uma vez um relacionamento que prometia durar para sempre, um casal que se amava muito e o início de uma vida feliz, um ao lado do outro. Mas em um dia, como qualquer outro dia normal, tudo isso terminou. Apesar de parece sinopse de conto de fadas, isso descreve exatamente como me senti após o término de um relacionamento de 5 anos.
O conheci quando tinha de 18 para 19 anos e me apaixonei de segunda vista (a primeira impressão não foi boa). Seis meses depois ficamos e logo estávamos namorando, pedido feito por mim (ele me pediu em casamento com 1 mês de namoro). Logo no começo ficamos obcecados um com o outro e burlávamos a regra dos meus pais de que ele não poderia dormir em minha casa sempre. Éramos vizinhos próximos e ele foi ficando, ficando e, por fim, ficou. Oficialmente ele se mudou para a minha casa depois de 3 anos, mas na prática foi muito antes disso.
Ficamos completamente grudados por 4 anos e 11 meses, com exceção de cerca de 15 dias entre o primeiro e o último dia de relacionamento, sendo 5 destes a semana em que ficamos separados antes do fim oficial. De todos esses dias, por mais triste que seja, as únicas memórias que me restaram foram a dor de estômago permanente que ganhei nos dias do fim e o desespero de não conseguir dormir nos meses que se passaram depois. Hoje, mal consigo me lembrar dos momentos bons que me fizeram atravessar esses quase 5 anos ao lado dele, meu ex-melhor amigo, ex-namorado, ex-noivo e ex-companheiro.
Hoje, 2 anos e alguns meses depois (já me esqueci de todas as datas que importavam, incluindo a data do término), percebo o quanto esse término me abalou. Ou o quanto eu já era abalada por natureza e usei meu ex como um escudo contra isso. Hoje, tenho raiva pois percebo todas as coisas absurdas que tomei como certas simplesmente porque estava com alguém que me amava. Todo esse "amor" foi regado de regras estúpidas do tipo "não bebo, não fumo, não dou trela pra ninguém, não xxx (entendedores entenderam) e você pode ter certeza de que nunca vai encontrar ninguém igual a mim". Mas isso nunca foi dito com violência alguma e, na minha inocência do primeiro amor, achei tudo lindo e correto e da maneira como tinha de ser. Cheguei ao ponto de não ter nenhum amigo e um relacionamento completamente desgastado com a minha família por acreditar que eu só precisava dele e ponto final. Só fui perceber o quanto isso era distorcido quando assisti aquele famoso vídeo da Jout Jout sobre relacionamentos abusivos. Puta merda.
O que houve depois do término do meu namoro foi como finalmente deixar de ser surdo no meio de um festival de música, bem no ponto onde você consegue ouvir todas as bandas ao mesmo tempo, os vendedores ambulantes gritando e o barulho da galera. Ou seja, puro caos e completa falta de norte. De repente não havia mais ninguém entre minha família e eu. Foi sangrento, explodi de dentro pra fora e fiquei em carne viva, cheguei a dizer para minha mãe que tudo tinha terminado por culpa dela. Passava pelos dias sorrindo no trabalho (demorou meses para as pessoas descobrirem que eu estava solteira) e chorando escondida na faculdade à noite. Até que aos poucos as pessoas souberam e de repente eu estava indo para a balada e bebendo muito, coisas que não podia fazer enquanto namorava com ele, assim como tirar selfies e comprar qualquer roupa que quisesse, conversar com as pessoas pelo celular ou Facebook, etc.
Nas saídas, tratava todos os caras que conhecia como lixo, nem me importava em saber seus nomes ou passar mais de 5 minutos com eles. Parecia que toda a minha raiva estava sendo descontada nessas pessoas que sequer conhecia. Eu estava sendo uma verdadeira imbecil, não só com eles, mas comigo também. Quando finalmente chegava em casa tinha que ficar assistindo vídeos no Youtube até desmaiar de exaustão, porque a ideia de ficar sozinha deitada no escuro me amedrontava. Demorei meses para ocupar o 'lado dele' na cama e conseguia sentir a ausência dele durante a noite. Parecia que havia um espírito sempre presente, isso me deixava sempre meio alerta. Tudo que eu via pelas ruas era um tapa na cara que soava como o nome dele. E, então, ele começou a reaparecer aos poucos...
Um dia na faculdade, outro na porta do trabalho, outro em casa. Por meses recebi visitas surpresas dele até que finalmente falei que ele estava me deixando apavorada. Olhar para essa pessoa me deixava com muita raiva por todos os anos que perdi, afinal, não são anos perdidos aqueles os quais não temos nenhuma memória? E fui assim, seguindo com raiva dele, tentando me vingar provando que estava muito melhor sozinha. Hoje percebo o quanto isso era infantil e bobo, apenas provas de toda a dor que eu estava sentindo. Até que reencontrei meu namorado atual, mas não quero falar sobre isso, pois não quero perpetuar a ideia de que apenas um relacionamento cura o outro.
Durante os meses pós término eu aprendi muito sobre a minha pessoa. Estar com alguém ali, tão presente em minha vida (dormíamos juntos, trabalhávamos sempre no mesmo lugar, comíamos a mesma comida, nos falávamos por telefone o dia inteiro), me distraiu do verdadeiro foco, que sou, e sempre será, eu mesma. Apesar de toda a dor, eu passaria por tudo novamente quantas vezes fosse necessário só pelo presente de me descobrir debaixo de todas as feridas.
Eu , sobrevivente! |
Quanto tempo levei para me recuperar? Muito. Hoje finalmente me considero curada, a raiva passou e consigo lembrar razoavelmente das coisas boas. O processo foi longo e teve muito escorregão pelo caminho, mas valeu a pena, porque aprendi que sempre vale a pena quando a jornada serve para salvar e fortalecer quem nós somos. Acredite em mim: o inferno acaba e você volta a sorrir e, até mesmo, a amar. E com sorte, aprende a se perdoar por todos os erros que cometeu. :)
11 comentários
Olá Tate, acompanho seu blog desde o organizando minha vida mas só hoje resolvi comentar, acho muito interessante a forma como vc bloga bem pessoal mesmo. Comecei um blog e gostaria de compartilhar com vc e suas leitoras, pretendo falar de várias coisas e o primeiro post é sobre depressão.
ResponderExcluirhttps://minilowlow.wordpress.com/2016/07/20/12-dicas-para-melhorar-da-depressao-agora/
Que bacana! Seja bem vinda a blogosfera! Ainda não consegui visitá-lo, mas assim que der dou um pulinho por lá!!
ExcluirBeijos!
Uau, Tati! Que experiência. Acredito que nada é por acaso e talvez apenas passando por isso que passou você conseguisse se tornar a pessoa que é. Quando estamos no olho do furacão não compreendemos isso, mas depois, quando amadurecemos, compreendemos. Fico feliz por você ter aprendido com isso, por perdoar, por não guardar mágoas e seguir em frente com sua vida. Essa sem dúvida é a melhor escolha!
ResponderExcluirBeijos e seja feliz!
Bruna, pois é, só com um bom distanciamento para enxergarmos a realidade das coisas... Foi uma boa experiência, fico feliz por ter passado por ela. Perdoar é um processo que demora muito. São tantas coisas, por onde começar? Acho que ainda estou nessa jornada, mas hoje ando mais alerta para as armadilhas da vida.
ExcluirBeijos, e seja feliz também!
Parabéns, adorei o seu post! Eu demorei bem mais para sair de um relacionamento abusivo, fiquei dez anos casada, tive filhos, saí destruída. Gostei de ver sua foto, linda, com a legenda "sobrevivente". Também sou uma sobrevivente. ;-)
ResponderExcluirNunca se culpe pelo tempo que ficou dento do relacionamento, pense que você teve forças para sair e sobreviveu, mesmo que com alguns pedacinhos faltando. Sei bem qual é a sensação de se sentir "destruída".
ExcluirBeijos!
Precisamos aprender a nos valorizar e não deixar o outro ocupar o espaço maior do que deve em nossas vidas. Parabéns pela volta-por-cima e felicidades!
ResponderExcluirBj e fk c Deus.
Nana
http://nanaeosamigosvirtuais.blogspot.com.br/
Obrigada pelo carinho de sempre, Nana!
ExcluirBeijos!
Nossa é bem assim mesmo! Mas ainda bem que você superou toda essa dor e hoje pode escrever sobre! Todo término gera um aprendizado
ResponderExcluirbeijos
Drevys, parto do princípio de que tudo na vida gera aprendizado, cabe a nós identificá-lo no caos da vida!
ExcluirObrigada pela visita!!
Obrigada, José Roberto! Volte sempre!
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