E a família?

10:00

Há dois anos atrás fiz um post a respeito da minha vida familiar e depois seguimos com uma série de posts a respeito de uma grande declutter lá em casa. Engraçado como algumas coisas mudaram, e outras continuaram iguais.
A grande mudança operada na vida familiar foi minha. Hoje, por exemplo, eu cuido de todos os afazeres domésticos que envolvem as minhas coisas, exceto cozinhar. Minha grande vitória foi conseguir desvincular os cuidados com as minhas roupas da grande bagunça que é o cuidado das roupas dos outros moradores da casa. A minha mãe ainda fica confusa com isso, porque ela sempre fala "deixa que eu faço", mas eu não deixo nada para ela fazer. Lavo, passo e costuro minhas próprias roupas, no meu próprio ritmo, de acordo com minhas necessidades.
A segunda mudança foi na minha mãe. Ela não é leitora do blog - infelizmente! - mas foi mordida pelo bichinho do desapego de tanto me ver batendo nessa tecla. É engraçado de se observar: ela está passando por aquela fase conflitante do começo do processo de desapego, em que alguns dias você acorda disposta a destralhar até sua gaveta de calcinhas e em outros só falta ela ir dormir abraçada com o faqueiro. Eu só observo, porque existe um conflito de interesses provocado pelo excesso de intimidade: paciência com a minha mãe nunca foi meu forte. O grande porém é que todo esse acumulo de tralhas está cobrando cada vez mais o seu preço, e ela está irritadiça e propensa a discutir mais e mais a cada dia. Isso causa um afastamento dos homens da casa, que fogem desse tipo de reação "exageradamente feminina".
Minha existência ocorre de forma independente da deles, pois além de ser a estranha da casa, também tenho uma agenda lotada. O único dia livre me serve para organizar todos os outros dias da semana, o que podemos traduzir em: eu, trancada no meu quarto com fones de ouvido e minha cama-mesa tomada de papéis, agendas, pastas e canetas.
Uma coisa que eu só comecei a entender há cerca de um ano foi que quando minha mãe vinha reclamar comigo ela não estava me culpando por tudo, mas estava desabafando. E eu só percebi isso aos 23 anos porque ela, sem nem perceber, soltou um "não estou falando de você". Claro que, nem sempre é assim, pois ela adora pontuar minhas qualidades durante os surtos de mãe dela, mas isso me ajudou a entender um pouco mais a respeito dessa mulher louca que mora na mesma casa que eu.
O que ficou desse meu levante de dois anos atrás foi a rotina do "final do ano" que nós estamos ainda tentando levar à perfeição. Mas sabemos que no último trimestre a casa tem que passar por uma limpeza homérica para a virada do ano acontecer com energias renovadas.
Hoje, eu flerto com as possibilidades e maneiras de tirar o peso de tudo isso das costas dela, porque ainda não cheguei lá. Não que eu não saiba que eu devo lavar o prato que eu sujei na janta, mas nem sempre eu faço isso. Não que eu não saiba que devo guardar o secador de cabelos depois de usar, mas - novamente! -  nem sempre eu faço isso. As vezes por preguiça de viver mesmo, as vezes por revolta, as vezes porque eu não quero e ponto final. Só que tudo isso só seria direito meu se eu morasse sozinha, então eu não posso ser assim. Um grande defeito meu é meu excesso de independência. Vivo muito para mim, pensando em mim. Transbordo em mim mesma. Não de uma maneira malígna, do tipo roubando lugar de velhinhas por aí, nos ônibus de São Paulo. Mas de um jeito meio distraído, do tipo "o que eu vou trabalhar em mim hoje/essa semana/dessa vez?" ou "como posso fazer isso de um jeito que melhor se encaixe nas minhas expectativas?". 
Então, para quem se perguntava, como anda a minha família depois de tudo aquilo? Anda bem, daquele jeitinho de sempre, igual a sua e igual àquela outra. Poderia estar melhor, mas poderia também estar pior. O que eu sei é que eu ainda sou aquela pessoa que acredita que deve melhorar sempre, e esse é um dos meus projetos de vida.

2 comentários

  1. Familia é assim mesmo, rs... Mas muito legal que você está conseguindo refletir sobre isso de uma maneira leve :)

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    1. Andreia, é preciso muita maturidade para enxergar as coisas assim, mas vivendo um dia de cada vez chegamos lá!
      Besos!

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